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Espiritualidade

Espiritualidade nas empresas


por Gustavo G. Boog*

As palavras de abertura da coleção de livros “Espiritualidade no Trabalho”, da Editora Gente, que Maysa Marin e eu coordenamos, são:

“A espiritualidade no trabalho é um movimento amplo e crescente de busca de estados mais elevados de consciência, que estimulem as pessoas, equipes e as organizações a identificar e praticar ações visando tornar a empresa uma cidadã consciente em sua comunidade, região e planeta. A espiritualidade no trabalho tem implicações diretas na relação da empresa com os clientes, visão de resultados, liderança, gerenciamento de pessoas, ecologia, educação, desenvolvimento e bem-estar físico, emocional e espiritual. Com isto se encorajam ações de transformação pessoal em seus relacionamentos e em seu ambiente.”

Quando se menciona a palavra espiritualidade, em geral as pessoas entendem:

– Ah, ha, ele está falando de religião!

Esta confusão é bastante comum e leva ao estreitamento do conceito de espiritualidade. Creio que o texto acima é muito mais abrangente a aplicável ao nosso cotidiano.

A matéria de capa da Revista Exame de 23 de janeiro de 2002 trata do tema “Deus ajuda?”, com a pergunta complementar: a espiritualidade está em alta no mundo dos negócios. Será mais um modismo ou vai transformar a vida das empresas?

Eu tenho uma opinião bastante clara que nós estamos em meio a um enorme processo de transformação no mundo empresarial, e que a espiritualidade já tem um papel norteador fundamental neste processo. Nós passamos uma grande parte do “horário nobre” de nossas vidas nas empresas; então, é justo e previsível que busquemos também neste local privilegiado um conjunto de significados para nossas missões de vida. Portanto, respondendo à Exame, este não é um modismo! Como descrito na revista, é louvável e faz parte dos negócios a postura de tantos dirigentes de empresas, que buscam aplicar, cada um à sua maneira, sua espiritualidade no dia-a-dia de seus negócios.

Para se ter uma idéia da abrangência e penetração do tema, se pesquisarmos nos instrumentos de busca da Internet a palavra “espiritualidade”, temos 42.700 citações. No inglês, “spirituality” temos 2.340.000. Quando vamos para “spirituality at work”, encontramos 1980. São números significativos.

A visão mecanicista tradicional fragmenta a nossa vida em segmentos separados: nós trabalhamos de 2a. a 6a. , e no sábado ou domingo, vamos à missa, culto ou reunião de orações, segundo a crença de cada um. É como se o mundo dos negócios se separasse do mundo “religioso”. A visão de espiritualidade mescla e integra estes mundos, fazendo do ambiente empresarial um lugar privilegiado onde podemos (e devemos) praticar a espiritualidade. O sentido de fraternidade, tão caro a todas as correntes espirituais, se manifesta sob o nome de “trabalho de equipe” (e até “espírito de equipe”).

A estratégia de negócios pode ser denominada de “nossa missão” e nortear e fornecer significado a todos que trabalham. O lugar de trabalho deixa de ser só um lugar para se ganhar um salário no fim do mês ou para gerar lucros, para ter um sentido ampliado de satisfação. O papel gerencial dos líderes passa a incorporar a dimensão humana: orientar e apoiar o crescimento das pessoas de cada departamento, ajudando-as na realização de seus potenciais individuais. O que antigamente era visto como assunto desligado das empresas, como algo religioso ou até místico, hoje se insere como uma dimensão estratégica das organizações. São as “empresas que aprendem”.

Quando as empresas e as pessoas que nela trabalham têm esta consciência, a conseqüência é que fluem com muito maior facilidade os fatores mais buscados pelos executivos das empresas: a motivação, o desempenho, o espírito de equipe, a comunicação eficaz, a qualidade, o foco no cliente, o “estar de bem com a vida”. Quando trabalhamos o tema da espiritualidade no trabalho, os benefícios que podem ser esperados são a melhoria da qualidade de vida individual e coletiva, o estímulo à situações de crescimento e desenvolvimento, o incentivo do sentido de parceria, criatividade, cooperação e trabalho em equipe.

Espiritualidade e auto-conhecimento são irmão gêmeos, estimulando ações de transformação pessoal e, conseqüentemente, de seus ambientes. Na medida em que a empresa desenvolve com maior clareza sua missão e visão, estará revelando as intenções reais, que precisam ter uma dimensão de transcendência, de servir a uma causa maior. Quando as pessoas se conectam à dimensão espiritual de suas tarefas do cotidiano, novos significados surgem. Por exemplo, em qualquer relacionamento, quando olhamos a outra pessoa como um ser em processo de evolução, semelhante a nós, fica muito mais fácil o entendimento.

A enorme velocidade de transformação pela qual estamos passando em todos os aspectos de nossas vidas faz com que toda a segurança que tínhamos no patrimônio, no material e no concreto se desvanece, como uma neblina aos primeiros raios do sol. As dimensões do intangível, do invisível e do espiritual começam a se tornar mais presentes, e com isto os processos de transformação começam a fazer sentido e tem seu lugar . Eu começo a “ser humano” e a fazer a diferença, a transformar os “RH´s” e a nossas empresas em humanas quando integramos a mente e o coração, a matéria e o espírito, lembrando que O SER HUMANO É INDIVISÍVEL

Creio que é oportuno encerrar citando Rudolf Steiner, que em Bremen em 1910, disse:

Temos que erradicar da alma todo medo e terror do que o futuro possa trazer ao homem. Temos que adquirir serenidade em todos os sentimentos e sensações a respeito do futuro. Temos que olhar para frente com absoluta equanimidade para com tudo que possa vir. E temos que pensar somente que tudo o que vier nos será dado por uma direção mundial plena de sabedoria.

Isto é parte do que temos de aprender nesta era, a saber: viver em pura confiança. Sem qualquer segurança na existência; confiança na ajuda sempre presente do mundo espiritual. Em verdade, nada terá valor se a coragem nos faltar. Disciplinemos nossa vontade e busquemos o despertar interior todas as manhãs e todas as noites.
* Gustavo G. Boog é colunista do Empregos.com.br e consultor da Boog&Associados

6 comentários em “Espiritualidade”

  1. A essência do mundo é a espiritualidade conforme apresentado no artigo acima. É o caminho para a Felicidade.

    1. Realmente. à primeira vista, falar de espitirualidade traz à tona alguns preconceitos relacionados à auto-ajuda e termos que foram banalizados pela literatura comercial. No entanto, é preciso entender que a espiritualidade é uma dimensão humana tão importante quanto a social e a econômica, e precisa ser desenvolvida. A empresa não tem, por assim dizer, uma responsabilidade em propiciar isso, mas poderia com certeza ‘ir além’ tornando seu ambiente, práticas e olíticas orientadas também a essa dmensão.

      1. Concordo amplamente contigo Marcos. No entanto, quanto ao dever das organizações se preocuparem em desenvolver a espiritualidade das pessoas, tenho de discordar. Creio que elas podem e devem sim trabalhar nessa dimensão. Não porque precisam ser mais ‘boazinhas’ ou humanitárias, mas sim por conta de vários motivos. Destaco:
        – A necessidade de ser competitiva. Necessidade essa que depende diretamente das pessoas que atuam na organização e de sua disposição em alcançar os objetivos organizacionais.
        – Um ser humano não deixa seus medos, preocupações, intenções e valores na porta da empresa. Se eu não considero esses aspectos, posso elaborar políticas, práticas e definir processos de gestão de pessoas, corro o risco de atuar de forma míope e prejudicial à organização. A espiritualidade considera esse aspecto, embora reconheça-o como algo intensamente mutável e impossível de controlar.
        – O sentido no trabalho – Ninguém, por mais que bata no peito e garanta tal visão, trabalha só por dinheiro. Todo ser humano tem o anseio em ser reconhecido, respeitado e aceito. Na empresa que desenvolve práticas orientadas à espiritualidade (e aqui não me restrinjo apenas a falar de RH, mas de toda a Base de Estratégias Corporativas), o sentido do trabalho ficará claramente expresso, através de práticas responsáveis, participação, ética nos processos internos e externos, e uma série de outros elementos que não vou abordar neste momento.
        Encerro este comentário ressaltando que, não importa se o nome espiritualidade não é bem aceito (e realmente não o é por alguns profissionais), mas é imprescindível que as organizações atentem para os aspectos que ela aborda e se preocupem mais com eles.

    2. Sem dúvida alguma, Cida. É mais do que importante considerar, compreender e desenvolver nossa dimensão espiritual. um grande abraço

  2. Ah eu concordo com a resposta ao comentário do Marcos, João. Penso que não importa o nome ao qual é dado o processo de trabalhar a espiritualidade na empresa, mas importa mesmo é desenvolvê-la, não no nível individual apenas, mas, sobretudo, no nível organizacional

  3. Esse é o “MEU PROFESSOR QUERIDO”. Concordo com vc , João, em grau, número e gênero.Bjs.Odila.

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